Cortejo será realizado no dia 25 como forma de difundir a obra do advogado e jornalista que lutou contra a escravidão
Artigo escrito por Mônica Bergamo, e publicado pelo jornal 'Folha de São Paulo', no dia 14 de agosto de 2024. Confira aqui.
Um grupo de advogados, jornalistas e militantes do movimento negro vai realizar no próximo dia 25 uma caminhada em São Paulo em reverência ao jornalista e advogado abolicionista Luiz Gama (1830-1882).
O cortejo partirá do lugar em que Gama morava antes de morrer, no Brás, até o cemitério da Consolação, onde ele foi enterrado em um 25 de agosto. Os participantes vão repetir o juramento coletivo feito na ocasião da morte do abolicionista, em que as pessoas presentes se comprometiam a seguir a luta de Gama pelo fim da escravidão e pelos direitos das pessoas negras.
No mesmo ato será fundada a Sociedade Luiz Gama.
"O objetivo é resgatar a memória e a importância dele para a formação do Brasil, além de difundir a sua obra",
afirma o pesquisador Bruno Rodrigues de Lima, autor do livro "Luiz Gama contra o Império: a Luta pelo Direito no Brasil da Escravidão" (Contracorrente, 2024)" e um dos organizadores da iniciativa.
Lima acaba de ganhar o prêmio Jabuti Acadêmico com "Direito 1870-1875/Luiz Gama" (Hedra), que apresenta textos de Gama publicados na imprensa e referentes ao início da sua atuação como advogado, além de cartas pessoais.
O volume faz parte do projeto Obras Completas de Luiz Gama, que apresenta 800 escritos do abolicionista, sendo 600 deles inéditos.
A intenção do grupo é fazer celebrações contínuas até 2030, quando será comemorado os 200 anos do nascimento de Gama.
"As obras dele passaram mais de cem anos soterradas nos arquivos da escravidão. Quando a gente fala de uma educação antirracista, a gente precisa conhecer a história de quem fez o país. E a gente vai encontrar intelectuais negros como o Luiz Gama na fundação do pensamento crítico do Brasil", diz Lima.
O grupo também quer que a caminhada seja integrada ao calendário oficial de São Paulo. Segundo o pesquisador, o funeral de Gama reuniu em torno de 3.000 pessoas, segundo estudos que ele fez a partir de documentos da época.
"Esse número de pessoas era equivalente a 10% da população da cidade de São Paulo. Era muita gente no funeral", afirma.
Lima destaca que, em países da Europa ou nos Estados Unidos, Gama seria reconhecido como um herói por sua trajetória de
"homem que foi escravizado, lutou pela sua liberdade, conquistou ela, se tornou advogado, professor, jornalista e empresário e um pensador do Brasil, da democracia e do direito",
afirma.