Configure sua experiência ajustando suas preferências. Ao clicar em 'Aceitar', você concorda com o armazenamento de cookies no seu dispositivo para otimização da navegação e esforços de marketing.
AceitarRejeitar
Menu
Finalizar o Pedido
0

A nova era dos ventos e dos vinhos

A primeira obra literária do produtor une poesia com as histórias que ele viveu no caminho de elaborar vinhos que tragam história e se identifiquem com a sua origem.

Resenha escrita por Suzana Barelli, e publicada pelo portal 'Guia dos Vinhos' no dia 20 de maio de 2024. Confira aqui.

Pouco mais de um mês atrás, no início de abril, o produtor gaúcho Luís Henrique Zanini foi a estrela de um debate sobre viticultura regenerativa, em São Paulo. A ideia dos organizadores, a Aia, que é o braço de sustentabilidade do hotel Rosewood, e a importadora de vinhos Familia Kogan, era chamar atenção para um tema caro para a viticultura e muito pouco discutido por aqui. No tema central do debate estava a proposta de praticar uma viticultura capaz de regenerar a região onde as vinhas são plantadas. Zanini falou muito do seu trabalho de impedir que os vinhedos se transformem em uma monocultura e de trazer novas marcas na paisagem, a começar pelas araucárias.

Menos de um mês depois, a fala de Zanini agora parece visionária. Ainda há muito o que descobrir sobre as causas da tragédia que abateu o Rio Grande do Sul e que, na Serra Gaúcha, se traduziu em deslizamento de terra e destruição de muitos vinhedos – o Emater estima em mais de 250 hectares de vinhedos foram soterrados, em um número que não para de crescer. Mas já se sabe que o volume recorde de água registrado no Estado é uma das consequências das mudanças climáticas. E esse era o ponto principal da apresentação de Zanini: temos que regenerar e não deixar que os vinhedos gaúchos sejam apenas uma monocultura, expulsando as demais variedades de seu entorno. O impacto dessa ação do homem pode ser fatal, disse ele, sem nem no pior pesadelo imaginar o que estava por vir.

A apresentação foi seguida de uma degustação de três safras do Era dos Ventos Peverella, o vinho que deu fama ao produtor: o 2021, o 2014 e o inesquecível 2011. Na década passada, Zanini foi um dos primeiros produtores brasileiros que decidiram elaborar o chamado “vinho laranja”, quando a casca da uva fica mais tempo em contato com o mosto, trazendo complexidade de aromas e texturas e uma coloração âmbar (por isso, muitas vezes é chamado de vinho laranja). No final da noite, também houve a distribuição dos primeiros exemplares de A Era dos Ventos, o livro que Zanini lançou na semana seguinte, editado pela Contracorrente.

A primeira obra literária do produtor une poesia com as histórias que ele viveu no caminho de elaborar vinhos que tragam história e se identifiquem com a sua origem. Peverella, por exemplo, é uma variedade trazida pelos imigrantes italianos e que quase desapareceu na Serra Gaúcha. Hoje, a estimativa é que tenham (ou tinham, ainda é cedo para dizer) 35 hectares da variedade cultivada na região. O próprio Zanini tem 1,8 hectare, ou tinha, de peverella. Ainda não é possível passar pelos vinhedos e contabilizar os prejuízos materiais, mas ele estima que perdeu 0,4 hectare de vinhas jovens, recém-plantadas com a peverella.

São as poesias que trazem um deleite à leitura. Zanini se define como um poeta, como exemplifica o contrarrotulo de seus vinhos, sempre com uma poesia. No livro, não é diferente: cada capítulo traz um poema do viticultor, com temas ligados à temática do vinho, muitas referências ao meio ambiente e ao amor. O capítulo sobre as araucárias é o que parece mais visionário. As matas de araucária representavam mais de 40% do território riograndense e hoje são menos de 3%, informa o autor logo no início do capítulo. E Zanini escreve:

“o primeiro vinho da Serra Gaúcha nasceu nos braços e no tronco de uma araucária. Foi ela também que moldou a estrutura dos vinhedos e que ajudou a transportar o vinho pronto em comboios pelo Brasil afora. Esquecer da araucária é dar as costas ao passado vínico do nosso país”.

O capítulo continua contando a história da viticultura, com a troca dos equipamentos elaborados com a araucária por materiais mais modernos, como o inox. “A madeira é história de uma árvore, mas o inox, o polipropileno, o concreto contam que história?,” pergunta ele ao longo do capítulo.

E termina assim: “O fato é que aqui no Brasil, queiram ou não, a vitis é exótica e nem mesmo as espécies lambruscas, ditas americanas, são originárias daqui. Por isso considero tão importante compensar o cultivo das videias com o plantio de espécies nativas. Elas devem coabitar. É só uma ideia de um poeta que ama tanto a vinha como as araucárias”.

E o capítulo seguinte começa com uma poesia sobre a primavera e o sugestivo título de “Devastação das matas”. Apesar de falar das matas da região no início do século 20, não deixa de ser atual.

Nossos Últimos Lançamentos

Ver Mais Lançamentos

Cadastre seu E-mail para Receber Novidades

E-Mail
Obrigado. Seu cadastro foi realizado com sucesso!
Não foi possível enviar seus dados. Por favor revise seu endereço de e-mail, aceite os termos e condições e tente novamente.
© Editora Contracorrente LTDA
2023
Rua Vergílio de Araújo Valim, 167, Avaré, SP—18707-815
CNPJ: 22.120.667.0001-60
Rua Vergílio de Araújo Valim, 167
CNPJ: 22.120.667.0001-60
Avaré, SP
CEP: 18707-815
CNPJ: 22.120.667.0001-60