De banqueiro a porta-voz da justiça social
Eduardo Alvares Moreira nasceu no Rio de Janeiro, em 11 de fevereiro de 1976, em uma família que, como muitas no Brasil, acreditava que a educação era o caminho mais seguro para abrir portas. Filho aplicado, estudou Engenharia Civil na PUC-Rio, formação que lhe garantiria prestígio acadêmico e, em seguida, ingresso em uma das instituições financeiras mais cobiçadas do país. No Banco Pactual, ascendeu rapidamente: tornou-se sócio responsável pela Tesouraria para a América Latina, cargo que o colocou no centro do poder financeiro.
Essa primeira fase da vida, marcada pelo mercado de investimentos e pela fundação da Brasil Plural – grupo que daria origem à marca Genial Investimentos –, foi decisiva para construir a reputação de um homem de negócios. Mas também serviu para expor as contradições entre o sucesso individual e a desigualdade social que marcava o país. Em 2009, ao se afastar do Pactual, Moreira começaria a desenhar um novo caminho, que trocaria os bastidores do capital financeiro pela arena pública das ideias.
Das finanças ao palco e às letras
O currículo de Eduardo Moreira não cabe em uma única gaveta. Ex-banqueiro, mas também dramaturgo, escritor de mais de dez livros, palestrante requisitado, empresário cultural. Entre os seus maiores êxitos editoriais estão Encantadores de Vidas e O que os Donos do Poder não querem que Você Saiba, ambos best-sellers que figuraram no topo das listas nacionais. Se no primeiro explorou o universo de Monty Roberts, lendário domador de cavalos, no segundo abriu a cortina para denunciar mecanismos de concentração de poder econômico.
Em 2015, formou-se como roteirista na New York Film Academy. Dois anos depois, estreou como dramaturgo com Branca de Neve e Zangado, peça infantil que chegou a disputar o Prêmio FEMSA de teatro na categoria Revelação. A literatura, o teatro e o cinema se tornaram extensões naturais de sua trajetória: espaços onde a crítica social e a reflexão sobre o sentido da vida ganhavam roupagens diversas, da fábula ao ensaio filosófico.
O ativismo também se traduziu em mídia. Moreira foi colunista da Exame e apresentou o programa Entre Nós, na TV Estadão. Em 2018, experimentou o papel de comentarista político na Jovem Pan, em uma passagem breve. Ao mesmo tempo, abria outro front: os cursos de educação financeira. No YouTube, seu canal alcançou centenas de milhares de inscritos, provando que era possível popularizar um tema historicamente restrito a poucos.
Conhecimento como ferramenta de transformação
O passo seguinte foi mais ousado. Em 2020, ao lado do sociólogo Jessé Souza, fundou o Instituto Conhecimento Liberta (ICL). A proposta era simples e ambiciosa: oferecer cursos acessíveis em diversas áreas do conhecimento, ampliando o acesso à educação crítica. Em pouco tempo, a plataforma somou centenas de opções de aulas, ministradas por intelectuais, jornalistas e economistas de peso.
Dessa iniciativa nasceu também o ICL Notícias, programa jornalístico diário transmitido online. Com Vivian Mesquita na bancada e comentaristas como Chico Pinheiro, Xico Sá, Jamil Chade e Cristina Serra, o projeto consolidou-se como um dos polos de jornalismo independente no Brasil, oferecendo uma narrativa alternativa ao noticiário tradicional.
Sua projeção pública o levou a ocupar, em 2023, uma das cadeiras do Conselho de Administração da Petrobras, indicado pelo governo. A presença de um ex-banqueiro que se tornou crítico feroz do sistema financeiro não passou despercebida. Em vídeos e entrevistas, Moreira apontava as distorções da estatal, que, segundo ele, havia deixado de servir ao país para atender a interesses externos.
Reconhecimento e engajamento político
Eduardo Moreira coleciona títulos e reconhecimentos. Em 2012, foi condecorado pela rainha Elizabeth II, no Castelo de Windsor, pelo esforço em eliminar a violência no adestramento de cavalos. No ano seguinte, figurou na lista da revista Época Negócios como um dos “40 brasileiros de maior sucesso com menos de 40 anos”. Em 2017, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da FAGOC, em Minas Gerais.
Mas a notoriedade não se sustenta apenas em prêmios. Moreira tornou-se uma das vozes mais presentes no debate político brasileiro. Foi crítico das reformas previdenciária e trabalhista de 2017, defendeu a taxação das grandes fortunas, manifestou apoio ao MST e levantou bandeiras contra as privatizações. O percurso de ex-banqueiro a porta-voz de causas sociais lhe rendeu admiradores e detratores, mas consolidou a imagem de alguém que se reposicionou publicamente em favor de um país mais justo.
Entre suas obras mais recentes, destacam-se Travessia: De banqueiro a companheiro (2021) e A Intenção Primeira: um ensaio sobre a natureza do real (2023), títulos que sintetizam o deslocamento de sua trajetória: da racionalidade fria do mercado para a busca de sentido coletivo e filosófico.
E, como organizador, Moreira soma mais uma contribuição de fôlego ao debate contemporâneo. Em A Última Chance, reúne análises e vozes que encaram de frente os desafios do presente — da desigualdade econômica à crise ambiental — e apontam caminhos para evitar o colapso. O livro é, em muitos sentidos, a síntese de sua própria trajetória: uma aposta na palavra, no conhecimento e na ação coletiva como as verdadeiras moedas capazes de transformar o futuro.