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PENSADORES
Emerson Rossetti

Emerson Rossetti

O professor que fez da linguagem um ato de escuta

Emerson Rossetti nasceu em Avaré, interior de São Paulo, onde ainda vive e ensina. A paisagem das cidades médias — com suas escolas públicas de paredes gastas, bibliotecas discretas e professores que atravessam décadas de magistério — moldou sua trajetória de forma indelével. É licenciado em Letras pelas Faculdades Integradas Regionais de Avaré (FIRA), instituição à qual retornaria mais tarde, já doutor, para lecionar. Fez mestrado (2003) e doutorado (2007) em Estudos Literários na Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Araraquara, com foco no Teatro Brasileiro e na Comédia — áreas que traduzem bem seu interesse pela relação entre palavra, corpo e crítica social.

Rossetti pertence a uma geração de professores formados quando o ensino público ainda respirava projetos de humanidade. Desde 1992, dá aulas de Língua Portuguesa e Literatura para alunos do ensino médio, cursinhos e universidades. Nas salas em que atua — da FIRA ao Centro Universitário Sudoeste Paulista (UniFSP) —, ele é reconhecido não somente pelo domínio técnico da norma culta, mas pelo modo como transforma a gramática em instrumento de liberdade. Seu princípio é simples, mas radical: dominar a língua é entender o mundo.

A palavra como espaço de transformação

Há mais de trinta anos, Rossetti observa o mesmo fenômeno: o impacto que o domínio da linguagem exerce sobre a vida das pessoas. A cada aluno que aprende a articular uma ideia com clareza, a cada texto lido com compreensão profunda, há, segundo ele, um deslocamento de consciência. Daí nasceu a Elite da Língua, um projeto educacional voltado à valorização da comunicação como ferramenta de emancipação — não no sentido elitista do termo, mas no da excelência que se constrói no cotidiano do estudo.

Em suas aulas, a literatura é menos um conteúdo e mais uma lente. O professor revisita clássicos e contemporâneos com a mesma curiosidade de quem sabe que a palavra é organismo vivo. Shakespeare, Nelson Rodrigues, Guimarães Rosa e Clarice Lispector aparecem ao lado de canções de Caetano Veloso, Adriana Calcanhotto, Chico Buarque e Marisa Monte — compositores que, em sua visão, traduzem a complexidade emocional e política do país com precisão poética. O que une esses universos é o gesto de leitura: analisar uma letra de música é, para Rossetti, exercitar a escuta, e escutar é o primeiro passo da aprendizagem.

No meio acadêmico, sua trajetória é marcada pela coerência entre teoria e prática. Participa de bancas de graduação e pós-graduação, ministra cursos de especialização e extensão, publica em revistas voltadas aos estudos literários e à didática da linguagem. Seus trabalhos exploram a interface entre literatura, teatro e sociedade — sobretudo a comédia brasileira, gênero que ele considera o mais honesto espelho do país. No riso, Rossetti enxerga não o alívio, mas a crítica: rir, em sua leitura, é uma forma de se aproximar do que o discurso oficial tenta disfarçar.

Educar é escutar — e devolver sentido

Com um estilo de fala pausado e tom que alterna ironia leve e generosidade pedagógica, Emerson Rossetti conquistou a reputação de professor que ensina a pensar. Para ele, a educação é um campo de resistência. “A Educação possibilita um conhecimento de mundo que garante direitos, respeita diferenças, proporciona senso crítico, prazer e liberdade”, costuma dizer — e, em tempos de discursos apressados, essa frase funciona como um manifesto.


Nos corredores das instituições onde leciona, é comum vê-lo discutindo metáforas com futuros advogados, nuances de estilo com psicólogos em formação, ou citando Drummond para adolescentes às vésperas do vestibular. O traço comum é a crença de que a leitura — de um poema ou de um contrato — é um exercício de responsabilidade.

Sua contribuição à sociedade, contudo, vai além da sala de aula. Rossetti tornou-se referência para colegas que buscam reformular práticas pedagógicas, levando o ensino de português para além da memorização de regras. É um defensor da linguagem como direito civilizatório: ler bem, para ele, é também um modo de não ser manipulado. Nesse sentido, sua docência tem dimensão política — embora se expresse sem panfleto. Ao longo da carreira, ele já orientou professores, coordenou projetos de atualização docente e ministrou minicursos que unem arte e educação, sempre com o foco na escuta crítica e na expressão consciente.

Em seus textos e palestras, o professor insiste na importância da norma culta não como imposição, mas como ferramenta de inclusão. “Saber a língua é ter acesso aos códigos que estruturam o poder”, afirma. Sua abordagem combina rigor e afeto, um equilíbrio raro no ambiente educacional brasileiro. É possível vê-lo citar Aristóteles e, na sequência, comentar um verso de Cazuza com igual respeito.

Entre a sala de aula e a canção

O interesse pela música brasileira atravessa toda a obra de Emerson Rossetti. Em seus estudos, ele examina letras de canções como textos literários — e, em especial, as de Marisa Monte, cuja trajetória ele acompanha desde os anos 1990. Dessa escuta nasceu seu novo livro, Marisa Monte: notas além da música (Editora Contracorrente, 2025), com prefácio da filósofa Márcia Tiburi. O volume propõe uma leitura generosa e didática da artista, revelando como suas canções articulam poesia, estética e sociedade.

Para Rossetti, estudar Marisa Monte é estudar o Brasil. O livro, segundo Tiburi, “chama pela nossa atenção na era da distração auditiva e visual”, oferecendo uma pausa reflexiva em tempos de ruído permanente. Ali, o professor transforma a discografia da cantora em campo de aprendizado, onde linguagem e arte se reencontram para recuperar o prazer da escuta — algo que ele defende em toda sua prática pedagógica.

Mais do que uma análise musical, o trabalho é também uma extensão da sua filosofia de ensino: ler para compreender o outro, ouvir para entender a si mesmo. Em Marisa Monte: notas além da música, Rossetti propõe que educar, afinal, é um gesto de tradução — e que toda leitura, quando feita com rigor e sensibilidade, é um ato de amor.

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