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Alessandro Candeas

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Alessandro Candeas — diplomacia brasileira em zona de conflito

Em um tempo em que a diplomacia se vê frequentemente reduzida a fórmulas previsíveis e discursos vazios de humanidade, há profissionais que exercem o ofício com densidade intelectual, sensibilidade histórica e vocação para o testemunho. Alessandro Candeas é um desses nomes — alguém que, além de representar o Brasil em postos de alta complexidade, também se dedica a pensar, escrever e partilhar com o público as tensões e dilemas de seu tempo.

Nascido no Rio de Janeiro, em 1972, Candeas construiu uma trajetória marcada pela sólida formação acadêmica e pelo trânsito fluente entre diferentes áreas do saber e da política pública. Doutor em Socioeconomia do Desenvolvimento pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), em Paris, formou-se em Relações Internacionais e enveredou por uma carreira que abrange tanto a diplomacia tradicional quanto cargos estratégicos no alto escalão da administração federal. Foi chefe de gabinete no Ministério da Defesa e na Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, além de assessor internacional do Ministério da Educação. Serviu ainda nas embaixadas do Brasil em Buenos Aires e Bogotá e na Delegação Permanente junto à UNESCO, em Paris.

Essa experiência multifacetada, aliada a um notável interesse por temas como cultura e desenvolvimento, relações internacionais e história das religiões, moldou um perfil diplomático raro — o de um intelectual em campo, atento às contradições do mundo e comprometido com uma escuta ativa dos contextos em que atua.

Trópicos, tratados e territórios: a formação de um pensamento inquieto

O pensamento de Alessandro Candeas não se limita ao campo técnico das relações exteriores. Seu percurso revela um interesse constante por temas transversais, que vão da tropicologia de Gilberto Freyre às implicações éticas da inteligência artificial, passando pelo multiculturalismo, pelas relações Brasil-Argentina e pela história do cristianismo. Trata-se de um diplomata que faz pontes entre áreas diversas quando reflete sobre o mundo, sem perder de vista o rigor conceitual nem a responsabilidade institucional de seu cargo.

Foi com esse repertório que Candeas assumiu, entre 2020 e 2024, a chefia da Embaixada do Brasil junto à Autoridade Palestina. A experiência na Terra Santa colocou-o diante de um dos conflitos mais antigos e sensíveis do cenário internacional, em um momento particularmente agudo: a estagnação do processo de paz, a intensificação das tensões entre israelenses e palestinos, o ressurgimento do antissemitismo global e as recorrentes violações de direitos humanos. Ao longo desses quatro anos, o embaixador não apenas coordenou ações diplomáticas, como também registrou, refletiu e escreveu — consciente de que, em determinadas circunstâncias, é preciso deixar o relato se sobrepor ao silêncio.

“Peregrinação e Guerra” — Entre a diplomacia e a literatura do testemunho

É esse conjunto de vivências que se materializa em Peregrinação e Guerra: anotações de um diplomata na Terra Santa, livro recém-lançado pela Editora Contracorrente. Longe de ser um simples memorial ou compilação de relatórios, a obra constitui uma valiosa intersecção entre a prática diplomática e a escrita reflexiva. O autor reúne nas páginas observações feitas em Jerusalém, na Cisjordânia e em outras localidades, articulando telegramas enviados ao Itamaraty, trechos de conversas com autoridades e intelectuais locais, registros pessoais, leituras e diálogos que ecoam a complexidade do território.

Dividido em quatro partes, o livro propõe uma leitura multifacetada da região e do papel do Brasil naquele contexto. A primeira seção, “Arqueologia ideológica de um conflito milenar”, remonta às raízes históricas, religiosas e simbólicas do impasse israelo-palestino. A segunda, “Experiência diplomática na Terra Santa (2020–2023)”, apresenta o cotidiano da missão brasileira no território palestino. Na terceira parte, “A guerra de Gaza: resgate dos brasileiros e abismo humanitário”, o leitor acompanha, quase em tempo real, os esforços do Itamaraty para proteger cidadãos brasileiros durante a escalada do conflito. Por fim, em “Reflexões sobre humanidade e espiritualidade”, o texto se abre para meditações mais amplas, que ultrapassam o campo diplomático e tocam questões éticas e existenciais universais.

Em todos esses trechos, a escrita de Candeas é marcada por clareza, empatia e firmeza. Ele se posiciona de modo transparente ao lado das vítimas civis e vulneráveis, recusando tanto o cinismo da neutralidade vazia quanto o maniqueísmo simplista. A obra oferece uma visão privilegiada dos bastidores da diplomacia brasileira em zona de conflito, e também um exercício de escuta, um gesto de respeito à complexidade humana e um convite à responsabilidade.

Com este lançamento, a Editora Contracorrente reafirma seu compromisso com a publicação de obras que interrogam o presente com profundidade e coragem. Peregrinação e Guerra é um testemunho atento, um documento histórico e uma obra de pensamento que se inscreve no melhor da tradição intelectual brasileira. Em tempos de ruído e superficialidade, Alessandro Candeas nos convida a uma leitura densa, serena e radicalmente humana.

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